domingo, 24 de março de 2013

Do lado de lá das pedras


Cercaram-lhe as ideias
num assalto.
Ficou refém de um sem-número de ilusões.
Estenderam-lhe o corpo no asfalto, deceparam-lhe
lentamente as sensações.
Teve medo, muito medo, do momento.
O poeta a soçobrar ali, no chão.
O corpo cativo, ele entende e aguenta,
o sonho nunca morre.
Não o matem! Não o matem! Não!

Olharam de soslaio o seu desígnio, e,
em jeito de malvadez ou zombaria,
arrancaram-lhe dos braços aquele sonho,
como quem rouba ao céu a fantasia.
Depois, dois tiros certeiros, e salpicou
de vermelho carmim a poesia. Morreu, eu sei.
Mas que lhe importa a morte,
se uma só vida lhe trouxe tantas vidas?

Será para sempre o outro lado, como se o corpo
se elevasse ao infinito, ou a longínqua viagem
do seu eco fosse a sombra interminável do seu grito.


Maria da Fonte
Imagem retirada da internet

4 comentários:

  1. Estás imparável querida amiga,
    Fantástico
    Abraço Né

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  2. Uma enorme elegia à poesia...
    Parabéns!

    Beijo :)

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  3. Magistral.
    O teu poema é excelente em muitos aspectos. Para além do conteúdo, destaco a musicalidade do poema.
    Gostei muito, muito mesmo. És poeta de mão cheia...
    Né, minha querida amiga, tem uma boa semana e uma Páscoa Feliz.
    Beijo.

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