terça-feira, 12 de março de 2013



Os poemas gostavam de voltar.
Pousavam no cume das ideias e desciam
vagarosamente ao sopé.

Depois, esporadicamente, paravam;
temperavam as entrelinhas com o sabor das terras,
deixavam pelos caminhos um rasto adocicado a fantasia.

Eu ficava ali agachada nas pedras,
à espera de um pedaço de ilusão.
Havia fome no tempo dos meus pais.

Nas entranhas da serra, os nichos de palavras
aninhavam-se como pedintes;
esgravatavam o chão num gesto martelado e corriqueiro.

E eu ficava ali à espera de ver nascer
do ventre da terra um poema.
Queria tanto que a terra fosse redonda como a minha mãe.

Só então levantava a cabeça em profundo desalento.
Olhava o pico das nuvens e sonhava
que a minha aldeia era um livro.

Minha mãe puxava-me pela mão.
Os poemas ficavam para lá da vida
e o horizonte era o lado negro da sorte.
Maria da Fonte
Imagem retirada da Internet

6 comentários:

  1. Há sempre um poema que se escapa da memória...

    Muito belo!

    O meu abraço
    Sónia

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  2. Um poema muito especial. É muito importante deixar as crianças viajarem em seus mundos, sonharem acordadas. Arrancá-las disso é podá-las do que há de mais precioso na infância.

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  3. Como me revi nestas palavras...
    Belo.
    Beijinho

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  4. Não há poesia na fome, na pobreza e noutros males que nos assolam de vez em quando.
    Mas há poesia em tudo que está à sua volta quando observadas por um poeta. Sim, porque tu sabes olhar. Depois, é saber passar para as palavras, como tu fazes e bem...
    Resumindo, fizeste mais um excelente poema.
    Um beijo, minha querida amiga.

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  5. Belo poetar amiga,estarei seguindo você,Bom fim de Semana,abraços.

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  6. O esgrimir do real com a poesia...
    Muito bem!

    Beijo :)

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